1 de outubro de 2017

Um mês de dieta.

Depois de ter tido a minha fase chanfrada do distúrbio do comportamento alimentar há seis anos, o meu peso estabilizou entre os 55 e os 58 quilos. Sentia-me bem, estava saudável física e psicologicamente e comia o que me apetecia (com as restrições sensatas do costume).

No ano após o nosso casamento engordei dois quilinhos e passei para os 60. A ideia seria perdê-los antes de engravidar, mas engravidei tão depressa que não consegui. No início da gravidez nem ganhei muito peso, mas mal vim para casa (às 22 semanas) as coisas descambaram à grande e acabei a gravidez com uns 80 e tal quilos no lombo.

Nunca estive muito preocupada com nada disto, confesso. O Mati estava saudável, eu também, comia o que apetecia sem as restrições sensatas do costume e, acima de tudo, eu sabia que nada daquilo era permanente. Eu sabia que quando me motivasse conseguiria fazer dieta (logo eu, que era tão pró a fazer dieta que até fiquei doente).

Uma semana depois do Matias nascer pesei-me e tinha 70 quilos. Pumbas, numa semana tinha perdido dez quilos. Fiquei satisfeitíssima da vida, a pensar que ia ser super fácil perder o peso que me restava e que rapidamente voltaria ao meu peso habitual sem qualquer esforço.

Não foi assim.



Um ano e tal depois, o meu peso ainda oscilava entre os 70 e os 72 quilos. E eu não estava minimamente preocupada com isso.

Passo a explicar. Quando me sento no sofá às nove da noite todos os dias, o meu filho - o filho que eu gerei e que carreguei e que trouxe ao mundo depois de mais de trinta horas de trabalho de parto - está a dormir tranquilo, aconchegado, quentinho, alimentado, lavadinho e saudável. A casa está minimamente habitável. Nós estamos cansados mas felizes. Somos uma família. Amamo-nos. Tenho uma família que me ama e os melhores amigos que poderia desejar. Tenho um trabalho complexo com o qual tenho uma clara relação de amor-ódio, mas que me faz sentir realizada na maioria dos dias.

Sinceramente, a minha auto-estima já está nos píncaros.

Eu não preciso de estar magra. O meu corpo faz tudo o que escrevi acima, e ainda tem tempo para ir ao cabeleireiro, às compras, à lavandaria, à oficina, etc etc etc. Caraças, eu mereço aquele gin e aquele pastel de nata.

E nunca deixei de me sentir bonita ou interessante. Na verdade, nunca me senti tão bonita ou interessante como agora, em que basicamente me surpreendo todos os dias com a quantidade absurda de coisas que consigo fazer.

Até ao dia. Até ao dia em que um amigo vosso é diagnosticado com uma qualquer coisa. No dia seguinte, outro amigo vosso é diagnosticado com uma qualquer coisa. No dia depois desse, outro amigo. Pessoas da vossa idade, com filhos, sem filhos, com vidas mais ou menos saudáveis.

E vocês param para pensar. Pelo menos, eu parei. Será que estou a fazer o meu melhor para ter uma vida saudável? Não. A minha alimentação baseava-se em engolir um iogurte líquido no meio do trânsito ou beber um galão e comer um pastel de nata quando chegava ao trabalho, almoçar uma sopa a correr às três da tarde, tirar um chocolate da máquina antes de sair e jantar um pratão da nossa comida deliciosa, com direito a mais um chocolatinho antes de ir para a cama porque eu mereço. E durante muito tempo senti que não havia grande coisa de mal com isso... Até ao dia em que decidi mudar.

Passou-se um mês e meio. Foi um mês muito difícil, com as viagens à Rússia, a Barcelona, ao Dubai e às Maurícias, com uma gastroenterite simpática pelo meio e toda a telenovela da viagem a Miami e às Bahamas que não aconteceu. Uma parte de mim queria adiar a dieta para quando voltasse de férias para poder fazer o que bem me apetecesse, mas outra parte sabia que se começasse naquela altura, um mês depois iria agradecer por isso.

E agradeço. Exactamente um mês depois, tinha menos sete quilos e estava oficialmente dentro do IMC considerado saudável. Não me sinto melhor nem mais sexy (porque já sentia, lembram-se?), mas sinto que consegui cumprir mais um objectivo (ser mais saudável) e que estou a dar um exemplo porreiro ao Mati. Ainda me debato com a vontade de beber gin, mas vamos fazendo um dia de cada vez.

Pelo caminho tornei-me uma vegetariana flexível. Como comida vegetariana todos os dias, mas por vezes se não tiver alternativas saudáveis (ou logisticamente aceitáveis) como carne. Em Barcelona o Pedro e o Diogo (um colega de trabalho do Pedro que dividiu o apartamento connosco) quiseram jantar num restaurante de frango assado e eu comi legumes grelhados e frango assado. Nas Maurícias fomos almoçar com um casal amigo que também estava lá de férias e comi lagosta, camarão, polvo, lulas, peixe e por aí fora. Num dos dias fomos fazer um passeio às ilhas e o almoço era frango, atum e salsicha grelhada e eu comi sem qualquer problema. No fundo, sou uma vegetariana aldrabona :D

E pronto, tudo está a andar no seu ritmo. Não tenho grandes prazos, vou vivendo um dia após o outro a descobrir novos alimentos (cereais puff love love love) e novas formas de me alimentar bem. E continuo a sentir-me bem, como sempre senti.

Mas mais saudável.